terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Cerca de 30 pichadores invadem galeria de arte e danificam obras expostas

Folha de S.Paulo - 9 de Setembro de 2008
Daniela Mercier
Colaboração para a folha

Um grupo de pichadores invadiu, no último sábado, a Galeria Choque Cultural, no bairro de Pinheiros (zona oeste de São Paulo), e danificou 20 obras de arte expostas no local.A galeria é voltada à divulgação e à venda de trabalhos de arte underground, como grafite e design gráfico.A ação foi organizada pelo artista Rafael Guedes Augustaitiz, o Rafael Pixobomb, que foi expulso do Centro Universitário Belas Artes em julho deste ano, por organizar uma pichação no prédio da faculdade.Os pichadores fazem parte do movimento intitulado "PiXação: Arte Ataque Protesto", que tem como meta protestar contra a comercialização da arte de rua.De acordo com o grupo, a galeria não representa a cultura urbana, e seus criadores não fazem parte do movimento de rua.Entre as obras danificadas estão quadros de Gerald Laing, referência inglesa da pop art, e do artista de rua brasileiro Daniel Melim.InvasãoA galeria estava em funcionamento quando o grupo de cerca de 30 pessoas, segundo informações do boletim de ocorrência, invadiu o local e pichou paredes, quadros e outros objetos em exposição. A ação durou aproximadamente cinco minutos.O grupo foi chamado a fazer a pichação por meio de um "convite" enviado por e-mail, que dizia o seguinte: "Evadiremos com nossa arte protesto uma "bosta" de galeria de arte segundo sua ideologia abriga artista do movimento underground. Então é tudo nosso [sic]".Procurado pela Folha, Augustaitiz não quis comentar a pichação e disse que "a ação falava por si mesma".Baixo Ribeiro, um dos proprietários da Choque Cultural, afirmou que o evento teve "pouca importância" e não quis falar mais sobre a invasão ocorrida.Na tarde de ontem, um boletim de ocorrência foi registrado no 14º Distrito Policial de São Paulo.Segundo o DP, o proprietário já foi notificado para fazer representação contra o grupo, condição para abertura de inquérito no caso de um crime de natureza privada. O caso foi classificado como dano ao patrimônio.Belas ArtesNa época em que Augustaitiz organizou a pichação no prédio da Belas Artes, ele alegou que a ação fazia parte do seu TCC (trabalho de conclusão de curso) em artes visuais. Augustaitiz não chegou a se formar.Participaram da ação, ocorrida em 11 de junho, 40 jovens portando sprays. Eles chegaram à faculdade juntos, a pé, muitos deles mascarados, por volta das 21h, com latas escondidas sob as roupas. Cobriram a fachada, a recepção, as escadas e as salas de aula com letras pontudas que caracterizam a pichação paulista.A Polícia Militar deteve sete jovens -incluindo o formando Augustaitiz.




(+) opinião

Autores de ação não conhecem contexto da arte

Fabio Cyprianoda reportagem local
Protestar contra a comercialização da arte por parte de galerias de arte é desconhecer o papel que esses espaços exerceram e exercem como local de experimentação e não apenas pelo valor mercantil que imprimem ao circuito.
Foram em galerias comerciais que alguns das mais radiacais ações na história de arte aconteceram, como a performance de Vito Acconci, na Sonna-bend Gallery, em Nova York, em 1972, quando o artista se masturbava sob um tablado por sei horas.
A ação foi considerada tão importante que foi reencenada, há dois anos, por Marina Abramovic no Guggenheim de Nova York. Sem galerias "comerciais" a a histéria da performance, modalidade que pode ser considerada tão alternativa quanto o grafite, seria diferente.
A Choque Cultural é hoje um local já estabelecido que faz esse tipo de intermediação, isso é, incorpora uma ação artistica mais radical, como o grafite, que tem na rua sua origem, ao espaço mais convencional da arte, o chamado cubo branco, que sempre precisa de renovação.
Uma ação de "pixação" tem um caráter muito mais oportunista. Trata-se de uma ação vazia, de quem não conhece o contextoda arte, mas está é em busca de 15 minutos de fama, como dizia Andy Warhol, outro artista que sabia usar o espaço comercial para repensá-lo.

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