terça-feira, 20 de janeiro de 2009

NIETZSCHE - ALÉM DO BEM E DO MAL - PRELÚDIA DE UMA FILOSOFIA DO FUTURO

Apresentação


Além do bem e do mal poderia ser traduzido como Para além do bem e do mal ou, como alguns querem, Para além de qualquer bem e de qualquer mal ou ainda Para além de bem e de mal. Seja como for, todos estes títulos refletem a mesma idéia, ou seja, como dispor o homem e, em decorrência, a sociedade para além desse bem e desse mal que a tradição, a religião, a sociedade organizada impôs ao homem, a cada um e a todos os membros em conjunto de uma comunidade. Por que bem e por que mal? Esses dois princípios que o homem vislumbrou desde os primórdios da humanidade sempre incomodaram o ser humano e sempre o deixaram perplexo, quando não desnorteados; essas duas forças antagônicas que, na realidade, nao são forças, mas inclinação, pendor, tendência de vida, de existência, de atitude, de comportamento, de projeção de si frente ao outro sempre interferiram, contudo, na vida do homem. Mas por que esses dois princípios, se o homem é o ser-junto e não o ser-só, é o ser-comunidade e não o ser-singularidade?


O problema é tão antigo quanto o mundo, é tão insolúvel quanto não deveria existir. Mas existe e subsiste, como sempre existiu e persistiu em se radicalizar como problema sem solução à vista. Diante disso, o homem procurou estabelecer outros princípios, ou melhor, normas que diminuíssem seu impacto na vida em comunidade. Serviu-se da própria convivência diuturna para minimizar essa sempiterna luta, tentando abrir caminho para a vitória do bem. Serviu-se depois da religião que propôs mil e uma formas, invocando a divindade, para erradicar o mal em benefício do bem. Nesse empenho profundo da comunidade humana, aliada à força da religião, surgiu a moral. Primeiramente a moral natural, ditando princípios amplos e simples de convivência humana. Depois, a moral religiosa que se reportava a uma divindade, a um ser superior a todos – inclusive ao próprio bem e mal – para condenar veementemente tudo o que tivesse a mínima sombra de mal, privilegiando o bem, declarando a este como emanação sublime da divindade ou como elemento primordial da própria essência da divindade.


Em Além do bem e do mal, Nietzsche discute essa problemática a seu modo. Para ele, a questão bem e mal está além da própria moral, porquanto esta estabeleceu valores que não representam a essência da sublimidade do ser humano. A moral religiosa estabeleceu normas rígidas que criou invocando uma divindade que lhe daria respaldo para ditar essas normas de coação, opressão e escravização. Mas a divindade existe?


Menos feliz ainda foi a ciência que criou verdades para dirimir não somente a dúvida sobre a essência do bem e do mal, mas para determinar que o bem é supremo e que o mal não passa de mal, no sentido natural de coisa inferior, de perversão do correto, de algo que foge aos princípios científicos que regem as leis naturais.


De igual modo, a política não trouxe solução alguma a contento. Pelo contrário, confundiu mais ainda o homem ao estabelecer um poder, um domínio, uma autoridade que nada mais representavam que opressão e supressão não só da liberdade do homem, mas de sua própria essência como ser com sua individualidade e com sua sociabilidade.


A solução de Nietzsche é simples: respirar outros ares. Mas é também complexa: voar mais alto, para o alto, acima do bem e do mal.

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